quinta-feira, 23 de junho de 2011

Novos Blogues

Tenho vindo a publicar neste blogue alguns posts sobre matérias diversas, mas que no essencial se contêm em três grandes temáticas:

- A Arquitectura Religiosa Moderna e Contemporânea em Portugal; 
- O Património Religioso da Região de Lisboa;
- A História e Património dos Concelhos de Almada e Seixal. 

Tendo iniciado uma actividade de publicação mais desenvolvida destas temáticas nos últimos meses, verifiquei que a utilização de um único espaço para publicação sobre as três temáticas, fazendo sentido para mim, talvez não faça tanto sentido visto de fora.

Assim optei por criar novos blogues mantendo uma mesma linha de publicação mas dividindo os posts por diferentes espaços conforme as temáticas ....


«História de Almada»
«Lugares de Almada»
«Lugares da Caparica»
«Lugares do Concelho do Seixal)
Quatro blogues uma raíz comum, a História e Património desta Banda do Tejo, aqui publicarei posts sobre diversos aspectos da História e do Património dos diversos lugares dos concelhos de Almada e Seixal.
A opção pela divisão em quatro blogues visa dar-lhes mais coerência e unidade, assim além de um blogue dedicado mais à investigação de fontes históricas sobre Almada, tenho mais três sobre a história e património dos lugares por um lado de Almada, a grande cidade da margem Sul, onde o património está mais ligada ao desenvolvimento urbano e actividade industrial, por outro lado da Caparica onde, apesar do seu actual desenvolvimento urbano, ainda se podem encontrar muitos vestígios da sua vida rural, por fim do Concelho do Seixal, com a suas três grandes vilas/cidades: Seixal, Amora e Corroios, que estiveram ligadas a Almada até 1836, e que constituem em larga medida uma síntese do que é e foi o povoamento da Banda de Além Tejo, como antigamente se chamava esta região a sul de Lisboa.

«Património Religioso da Região de Lisboa»
Será dedicado à publicação de posts sobre a história do património religioso da Região de Lisboa, onde irei publicar alguns artigos baseados nas investigações que tenho feito em fundos arquivísticos pouco conhecidos como o Arquivo Histórico do Patriarcado de Lisboa, e os fundos da Câmara Eclesiástica de Lisboa, na Torre do Tombo, e dos Cartórios Notariais e do Distribuidor, no Arquivo Distrital de Lisboa.

«História e Arte no Período Barroco»
Será dedicado à publicação de apontamentos sobre a história e arte em Portugal no Período Barroco, sobretudo arte religiosa, mas não só, a partir de bibliografia e apontamentos recolhidos em arquivos e fundos eclesiásticos e notariais.
Considerou-se o Período Barroco o período entre o início da Dinastia Filipina (1581) e a Extinção das Ordens Religiosas (1834), sendo que os últimos 60 anos deste período são marcados já pela consolidação do estilo neoclássico, embora mantenha ainda resquícios barrocos nomeadamente ao nível da talha.

«Arquitectura Religiosa Moderna»
Será dedicado à publicação de posts sobre a arquitectura e arte religiosa em Portugal dos últimos 150 anos, trata-se no essencial de um blogue que visa promover o valor histórico e artístico de uma faceta do nosso património que, a meu ver, tem sido menos valorizada, abrangendo um período onde floresceram em Portugal diversos estilos artísticos e arquitectónicos como o revivalismo romântico (neogótico, neomanuelino, neobarroco, neoárabe e outros), o eclectismo, a arte nova, a arte revivalista do período do estado-novo dita «Portugês suave», o movimento modernista da renovação da arte religiosa e período actual de arte dita pós-moderna ou contemporânea.

Manterei o blogue «História e Património» como a espinha dorsal dos meus posts e onde publicarei alguns artigos sobre assuntos de carácter geral, passando a publicar e transcrever para novos blogues os posts específicos sobre as matérias acima descritas.
Publicarei também mensalmente um post com o índice e sumário dos artigos que for publicando nos 5 novos blogues, mantendo desta forma a sua ligação a este blogue e aos seus possíveis utilizadores. 

Espero que cada blogue sirva para divulgar aspectos da História e Património do nosso país dentro das temáticas específicas referidas e que pela sua natureza podem apelar públicos diferentes.

RUI M. MENDES
23 de Junho de 2011

terça-feira, 21 de junho de 2011

Um Certo Olhar (1): Na Atalaia … da Trafaria

Introdução
Nas visitas e passeios que faço pelo nosso património, e já são muitos ao longo destes anos, tenho tido oportunidade de fotografar nas nossas paisagens e monumentos alguns instantes que ficaram na memória …

Gostando muito de fotografia, mas não sendo fotógrafo profissional, nem me considerando especialmente competente na matéria, acredito que mesmo assim sou capaz de captar algumas imagens de interesse pictórico …

Irei divulgando aqui algumas delas acompanhadas por um pequeno texto sobre a história dos lugares e impressões que tive quando as tirei … a que darei o nome de «Um Certo Olhar» …

Na Atalaia … da Trafaria

No dia 19 de Março de 2011, num Sábado à tarde, visitei a vila da Trafaria para tirar algumas fotografias do património local, em especial da Igreja de São Pedro e da Ermida de Nossa Senhora da Conceição, sobre a qual publiquei um post neste blog.

No património da Trafaria há contudo um outro templo que é menos conhecido, até pela sua inacessibilidade, é o caso da Capela de Nossa Senhora da Saúde, situada dentro do Forte da Trafaria.
Edificada originalmente em 1678 por determinação do Provedor-Mor e Oficiais da Saúde da Câmara de Lisboa, junto aos Armazéns do Lazareto do Porto de Belém (situado então na Trafaria), foi reedificada em 1725 em conjunto com os edifícios principais do Lazareto, seguindo o projecto do arquitecto Mateus do Couto, projecto o qual lhe deve ter dado as feições actuais.
Teve posteriormente obras de restauro da ruína causada pelo terramoto de 1755, as quais se achavam concluídas em 1786.

Em 1743, sob a direcção do Sargento-mor Engenheiro Carlos Mardel, são introduzidas diversas melhorias no Lazareto, sendo construída uma enfermaria e sendo murado, colocando um portão que vem impedir o acesso da população da Trafaria á Capela em período de quarentenas, esta situação de falta de acesso directo à Capela continuou, mesmo depois da transferência do Lazareto da Trafaria para a Torre Velha em 1815, assim permanecendo até aos dias de hoje ...

Logo, à falta de melhor, tentei tirar uma fotografia do exterior do Forte com o melhor ângulo possível, tentando também captar algum aspecto curioso da Capela que pudesse utilizar em futuras publicações, e o que saiu foi a foto abaixo, a que chamei «Na Atalaia … da Trafaria», trata-se de uma Gaivota pousada no cruzeiro da fachada da Capela olhando no horizonte o pôr-do-sol em direcção à Barra do Rio Tejo ….

RUI M: MENDES
21 de Junho de 2011

Lugares da Charneca de Caparica (2): A Aroeira, patrimónios do passado e do futuro

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Novo site da Paróquia de Cacilhas



Para quem quiser conhecer um pouco melhor a história da Freguesia de Cacilhas em Almada e da Igreja de Nossa Senhora do Bom Sucesso.
 
Cacilhas vista do Rio, 1846, Gravura xilográfica de João Pedroso
Fonte: Revista Panorama, Vol. 1, 1847, p. 137

RUI M. MENDES
15 de Junho de 2011

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Comemoração do Dia Internacional dos Arquivos

Comemoração do Dia Internacional dos Arquivos seta indicativa de direcção do conteúdo 
Separador

Arquivo Histórico Municipal



  
O Arquivo Histórico Municipal de Almada, no âmbito da celebração do "Dia Internacional dos Arquivos", dia 9 de Junho de 2011, abre a as suas portas das 10.00h. às 19.00h., para que todos os cidadãos possam visitar as suas instalações e descobrir alguns dos seus "tesouros".
  
O programa das comemorações inclui visitas guiadas ao Arquivo, aprazadas para as 10h, 15h e 17h. As visitas, sujeitas a marcação prévia, serão em grupos de pequena dimensão e incluem a apresentação do Arquivo e das actividades profissionais a ele associadas.
 

Contactos para marcação
Rua Visconde Almeida Garrett, 12
2800-014 Almada
Tel.: 212724900
Fax: 212724919
E-mail: arq.hist.mun@cma.m-almada.pt


sexta-feira, 20 de maio de 2011

A Iconografia Mariana da Igreja Paroquial das Mercês (Lisboa) / Igreja do [antigo] Convento dos Terceiros de Nossa Senhora de Jesus

       Organizou o Pároco das Mercês e St.ª Catarina, e Director do Centro Cultural do Patriarcado de Lisboa – Pe. António Pedro Boto de Oliveira, no passado dia 30 de Abril de 2011, pelas 21h00m, uma Apresentação sobre a Iconografia Mariana da Igreja Paroquial das Mercês, a que assistimos por convite do Centro Cultural do Patriarcado.
Foi uma óptima oportunidade de conhecer um dos espaços de culto de Lisboa mais ricos e aprender um pouco mais sobre a temática da iconografia mariana tão importante para quem, como eu, se interessa pela história da arte religiosa.
Deixo agora aqui alguns pequenos apontamentos que tirei na apresentação acrescentando outros elementos adicionais dispersos sobre as Imagens apresentadas e o seu contexto na História da Igreja de Nossa Senhora de Jesus e da Paróquia das Mercês de Lisboa.

Origens do Culto Mariano

(Imagem de Nossa Senhora de Jesus)
O culto mariano sempre teve uma presença nas igrejas cristãs desde as suas origens, pois sabe-se que das mais antigas representações marianas encontram-se nas Catacumbas de Priscilla datável do século XII. Enquanto as primeiras Basílicas cristãs estavam, associadas sobretudo à lembrança dos Santos mártires, incluindo os Apóstolos, é sobretudo a partir da época medieval que se assiste a uma profusão da devoção mariana existindo, por exemplo vários templos dedicadas a Santa Maria.
Com a chegada e difusão das importantes ordens religiosas medievais (Beneditinos, Cistercienses) e sobretudo alto-medievais (Dominicanos e Franciscanos) assiste-se à profusão das invocações específicas dessas ordens em função dos dogmas e da evangelização proposta.
Existem muitas invocações de Nossa Senhora associadas quer aos diversos momentos dos Evangelhos quer aos locais onde o seu culto se promoveu e divulgou.
A própria representação de Nossa Senhora varia bastante havendo muitas situações em que se confunde com as outras personagens femininas, quer do Antigo Testamento (como o caso da Rainha Ester), quer com algumas Santas mártires dos primeiros tempos da Cristandade.
Os títulos de Nossa Senhora eram muitas vezes atribuídos por pregadores por vezes ortodoxos, como no caso da invocação e Nossa Senhora Mãe dos Homens, imagem promovida por uma frade Lisboeta do século XVIII, que nos primeiros tempos de pregação era visto como um louco, mas que com o tempo foi ganhando muitos adeptos.
De entre as muitas imagens da Igreja de Nossa Senhora de Jesus, algumas têm de facto invocações muito originais, começando pela de Nossa Senhora da Conceição da Escada.
Nesta sessão falou-se 7 invocações, de que a seguir tratamos.

Iconografia Mariana da Igreja de Nossa Senhora de Jesus:

(1) Nossa Senhora da Conceição da Escada

(Várias Imagens de N.S. da Escada)
Imagem que deu origem a uma secular procissão que se repetiu no dia 1 de Maio de 2011, e que se consta ter origem (a procissão) num voto feito em 14 de Agosto de 1431 a qual durou até à chegada dos Filipes ao trono português.
Terá origem numa antiga Ermida de Nossa Senhora da Corredoura que existiu no Rossio, junto ao Convento de S. Domingos de Lisboa, e a sua invocação estaria relacionada com os 31 degraus que seriam necessários vencer até chegar à porta da Ermida, então se localizava num dos braços do rio que entrava pela baixa adentro.
«Junto de sua ermida, os pescadores buscavam remanso, amarrando seus barcos aos argolões de ferro chumbados em pilares de cantaria lavrada, e ao descerem o esteiro do Tejo, de gorros sobraçados e de mãos erguidas, pediam-lhe que lhes protegesse as redes. Tão querida e popular foi, que, pelo testemunho de frei Luís de Souza, todas as procissões que a cidade ordenava, ou para pedir a Deus remédio, ou para necessidades públicas, ou para agradecer graças recebidas, a essa ermida se dirigiam».
«Com o tempo, começaram a acorrer à capela pessoas em barcos de locais longínquos, a fim de cumprir promessas e votos, bem como agradecer favores recebidos. Numa determinada época, realizava-se uma procissão com tochas acesas, provavelmente à noite, que descia o rio até chegar à capela dedicada a Nossa Senhora da Conceição da Escada».
Em 1531 um terramoto destruiu a capela, que foi reedificada, no entanto o pequeno templo desapareceu definitivamente com o terramoto de 1755.
A partir do século XIX foi transferida, primeiro para o Convento dos Cardais e depois para o Convento de Jesus, sede da Paróquia das Mercês a partir de 1835.
A N.S. da Conceição da Escada tinha uma Irmandade fundada em 1761 e de que em 1895 era Juiz Manuel Joaquim Duarte.
Há quem invoque a escada como uma metáfora de Nossa Senhora como exemplo, uma «escada» para a santidade.
Em termos iconográficos a «Escada» é representada de diversas formas, enquanto na imagem presente no Convento de Jesus e nas diversas imagens difundidas no Brasil colocam a escada sob as mãos juntas da Virgem, também existem representações de Nossa Senhora num altar em forma de escadório ladeado por anjos, também conhecido por Scala Coeli (Escada do Céu) como por exemplo na Cartuxa de Évora, ou Ara Coeli (Altar no Céu), que corresponde à invocação de uma igreja de Roma doada aos Franciscanos no século XIII.
No Patriarcado de Lisboa conhecemos duas Ermidas sob invocação de Ara Coeli, uma na freguesia de Achete (Santarém) fundada em 1663 e outra numa quinta por trás do Chafariz de Arroios, em que Dona Maria Oliveira estabeleceu um vínculo de Capela antes de 1672.
Aliás esta última ermida fora já fundada em 1665 por Francisco de Brito Freire, Senhor do Morgado de Santo Estêvão e Nossa Senhora de Jesus, em que sucedeu ao pai, do mesmo nome e que fora instituído pelo avô Estêvão de Brito Freire, cavaleiro fidalgo de Sua Majestade, que em 27 de Agosto de 1627 se contratou com os padres do Mosteiro de Nossa Senhora de Jesus da Ordem Terceira de São Francisco de Lisboa, para lhe cederem capela mortuária na sua igreja com obrigação deste custear as respectivas obras, incluindo um retábulo de invocação de Santo Estêvão (DGARQ/ADL, CNL, 7-A, L. 6, ff. 12v-14 – cit. Vítor Serrão, «Documentos dos protocolos notariais de Lisboa referentes a artes e artistas portugueses», in Boletim Cultural da Junta Distrital de Lisboa, Nº 90 (1984-1988), p. 88).

(2) Nossa Senhora da Lembrança

Invocação pouco comum cuja origem é relatada por Frei Agostinho de Santa Maria no seu Santuário Mariano, já não pode ser admirada nesta igreja pois desconhece-se o paradeiro depois do terramoto de 1755, mas o altar será um dos que ainda se encontram na igreja pelo menos a fazer fé no contrato notarial da sua feitura datado de 1710.
Parece ter sido colocada numa Capela nos princípios do Convento de Nossa Senhora de Jesus (cuja Igreja foi inaugurada em 1623) por D. Fr Paulo da Estrela e sua irmã Jerónima Dias, que nela estabeleceram missa quotidiana, a que obrigaram os seus bens, obrigação que continuaram os descendentes de Jerónima Dias, que eram em 1707 os filhos de Domingos Barreiros, neto de Jerónima Dias.
Sabe-se que à sua volta se constituiu uma Irmandade que em 6 de Fevereiro de 1710 se contratou com Manuel João de Matos para a feitura do "(...) retabollo e trebuna da capella da mesma Senhora da Lembransa sitta na ditta jgreja do mesmo convento com dous santuarios nas ilhargas (...)".
(DGARQ/TT, C.N.L., 9A (actual n.º 7), L.º 346, ff. 46-47, publ. por Ayres de Carvalho, Documentário Artístico, p. 39 – cit. Sílvia Maria Cabrita Nogueira Amaral da Silva Ferreira, A Talha Barroca de Lisboa (1670 - 1720). Os Artistas e as Obras: Doutoramento em História, in:

Segundo António Carvalho da Costa na sua Corografia Portuguesa (1712) havia também na Ermida de Nossa Senhora da Vitória uma Capela dedicada a Nossa Senhora da Lembrança, devoção dos caldeireiros que cuidavam da festa e do adorno do nicho a ela designado. Na diocese do Porto fala-se de uma ermida com o mesmo orago.

Em 1723 o ourives da prata de Lisboa, José Francisco de Oliveira, fundou com a sua mulher uma Ermida da invocação de Nossa Senhora da Lembrança, na sua quinta do Vale do Torrão nos arrabaldes da vila de Almada, a qual veio dar origem à toponímia local «Quinta da Alembrança» (DGARG/TT, CEL, Mç. 1807, # 7).
Em 1759 temos notícia da Irmandade de Nossa Senhora da Lembrança do Salitre (Lusitania Sacra, 1995)

A devoção de Nossa Senhora da Lembrança parece ter-se expandido graças aos Padres da Congregação do Oratório (http://www.avemaria.com.br/revista/maria.jsp?rId=36).
Deixo aqui excertos do Santuário Mariano que retratam a origem da devoção de Nossa Senhora da Lembrança do Convento de Jesus:
«TITULO XII
Da milagrosa Imagem de nossa Senhora da Lembrança que se venera no Convento dos Padres Terceiros de Nossa Senhora de Jesus.
A Principal Casa q tem a Ordem Terceira do Seraphico Padre S Francisco he o Convento de nossa Senhora de Jesus Fundou-se este em Lisboa no sitio quechamão dos Cardaes e tomarão delle posse os Padres em dia de seu Pathriarcha S Francisco a 4 de Outubro de 1599 e no dia de São Mathias de 1623 se disse a primeira Missa na sua nova Igreja o que se fez com grande solemnidade.
São Padroeiros desta Casa os Condes de Atalaya & foy seu Fundador Illustríssimo Arcebispo de Lisboa Dom João Manoel que enriqueceo este Convento de muitas & notáveis relíquias de ricos & custosos ornamentos & de fermosas & curiosas peças & vasos de ouro & prata para o culto divino & a viver mais annos seria este Convento o mais rico de todos os do Reyno em cousas desta qualidade.
Nesta Casa he tida em grande veneração huma devota Imagem da May de Deos que nos principios da fundação daquelle Convento collocou em huma dasCapellas da sua Igreja o Bispo D Fr Paulo da Estrella Religioso da mesma Ordem e sua Irmãa Hieronyma Dias grande devota de nossa Senhora & impuzerão-lhe o título da Lembrança querendo obrigar sem dúvida a esta piedosa May dos pecadores a que com este titulo muito se lembrasse delles e como esta Senhora segundo diz S Bernardo he solicita cuidadosa medianeira para com aquelle Senhor que he o singular medianeiro para com o Pay Mediatrix ad mediatorem he certo se lembraria muito delles Estes mesmos se constituirão seus Padroeiros com huma Missa quotidiana & tem hoje este Padroado os filhos de Domingos Barreiros bisnetos de Hieronyma Dias.
(…)
Muitos milagres se referem dos quaes individuarei dous. O primeiro foy, que embarcandose algũs Religiosos em hum barco de Cassilhas, que hiaõ a fazer uma festa paraaquellas partes, & levavaõ em sua companhia dous Cavalheiros, que sem duvida eraõ os q' os conduziaõ para a mesma festa; de repente se armou no riohũa taõ grande tormenta, que despedaçada, & levada pelos ventos a vela, ficaraõ todos taõ atemorizados, juntamente com elles os barqueiros, que já naõ davaõnada por suas vidas. Nesta grande afflicçaõ em que se achavaõ todos, os animou o Corista, (que tambem os acompanhava) dizendolhes que invocassem a sua Senhora da Lembrança, & lhe prometessem de ir a sua casa, que ella os livraria do perigo. Assim o fizeraõ; & no mesmo ponto parou a tormenta, sossegàraõ-se os mares, & ficando o mar em bonança,chegàraõ felizmente a terra, aonde obrigados à Senhora lhe foraõ dar as graças. Assentàraõ de lhe fazer huma festa, & ocompriraõ com toda a grandeza, como pedia obeneficio.
    O Segundo milagre (que por tal se deve julgar) foy, que indo por aquellas partes o Conde de Atouguia em hum sege; o cavallo que o governava tomando ofreyo nos dentes o intentou despenhar, & levando-o fóra do caminho se hia a precipitar de hum paredaõ abaixo. Advertiraõlhe que invocasse a Senhora da Lembrança: fello assim, & o cavallo caindo em baixo se achou fóra das prizoens do sege, & este em cima seguro: sahio o Conde sem lezaõ: o cavallo naõ teve perigo, & o sege ficou saõ, & inteiro. A foy logo o Conde daras graças à Senhora, & dahi a breves dias lhe fez uma grande festa.
(…)
Na sua Capella & nas que ficaõ mysticas a ella se vem muytos quadros de mercês que a Senhora tem obrado & muitas memorias de cera que testemunhaõ outras muitas que obrou.
Finalmente a devoção da Senhora he hoje grande & ainda fora muito mayor se os Religiosos cuidarão de publicar as suas maravilhas.
Está hoje collocada em a segunda Capella do corpo da Igreja quando se entra nella da parte da Epistola em hum nicho no meyo do retábolo que he de muito boa talha dourada & guarnecida a Capella de ricos quadros de pinturas de Roma está com muita veneração cuberta com cortinas & com à mesma se descobre A Imagem da Senhorahe de rara fermosura tem o Menino Jesu em pé sobre as mãos & com muita graça está com o rosto inclinado para a Mây & na mesma forma a Senhora com olhos &attençaõ toda posta no Soberano Menino como quem lhe está fallando & ouvindo o que elle diz he de excellente escultura de madeira estofada tem mais de seis palmos a sua estatura. O q fica dito nos referirão aquelles muito Religiosos Padres indo aquelle Convento aonde vimos & veneramos esta milagrosa Imagem da Senhora».
(Santuário Mariano, Livro II: Título XII, 1707, pp. 308-311)

(3) Nossa Senhora do Perpétuo Socorro

(Altar de N.S. do Perpétuo Socorro)
N.S. do Perpétuo Socorro (2.ª capela do lado do Evangelho – lado direito) representa Nossa Senhora com o menino nos braços olhando para ela, e com o pé descalço ou com uma sandália a cair.
De origem ortodoxa o seu culto no mundo Católico surge sobretudo a partir do século XIX com a sua colocação na Igreja de Santo Afonso Maria Ligório e evangelização dos Padres Redentoristas, que Afonso Maria fundou.

(4) Nossa Senhora do Egipto

(Fuga para o Egipto)
A iconografia de N.S do Egipto, também chamada de N.S do Desterro, na representação da Fuga para o Egipto (na 2.ª Capela do lado da Epístola - direito), é uma representação rica em elementos iconográficos: Nossa Senhora com o menino nos braços em cima do burro, acompanhada atrás por São José, com o seu bastão e ambos com um chapéu de aba larga, e á frente conduzidos pelo Anjo.
É curiosa também a introdução de elementos chamados apócrifos, porque provenientes de descrições presentes nos evangelhos apócrifos, como por ex.º as ruínas das estátuas dos velhos deuses, ou a tamareira.
Aliás a Tamareira ou Palmeira é alusiva a um episódio relatado num dos evangelhos apócrifos em que Jesus manda que a tamareira se curve perante sua Mãe, estabelecendo-se a partir daí também uma relação entre a Palma e os vencedores e humildes, um pouco à imagem da tradição do mundo greco-romano.
Esta Capela esta associada a um Vínculo instituído por D. Isabel Ferreira em 1577, e que mais tarde foi anexado ao Morgado dos Tibaus de que Duarte Sodré tomou posse, em Novembro de 1712, por intermédio de Pedro de Brito de Carvalhaes (Maria Júlia de Oliveira e Silva, Fidalgos-mercadores no século XVIII: Duarte Sodré Pereira, 1992, p.27)
No Patriarcado de Lisboa conhecemos outros lugares de culto dedicados a Nossa Senhora do Egipto, como por exemplo:
- A Igreja e Convento de N.ª Sr.ª do Egipto e St.º António (Torres Novas), fundado em 1562;
- A Ermida ou Igreja de Ribafria (Palhacana, Alenquer), do séc. XVI, reedificada em 1753;
- A Ermida da Quinta do Sobral (Alverca), fundada em 1741 por D. Luís Severim de Noronha Manuel de Sousa e Meneses – Conde de Vila Flor & Copeiro Mor;
- A Ermida da Quinta do Egipto (Oeiras), que em 1707 pertencia a João Rebello de Andrade;
- A Ermida da Quinta do Lameiro (Carcavelos, Cascais), que em 1758 pertencia a Francisco Xavier de Mello, Secretário da Guerra;

(5) Imagem de Nossa Senhora da Apresentação e Cadeia

(Possível Imagem de N.S. da Apresentação e Cadeia)
O paradeiro desta imagem não é totalmente certo pois as descrições que dela temos não coincidem como nenhuma das imagens hoje presentes na Igreja.
Acontece como noutros casos que a perda de um dos elementos iconográficos não permite identificar com segurança a invocação de uma determinada imagem.
É no entanto provável que se trate da Imagem que está na Capela dos Vila Franca (do Campo).
Tinha uma Irmandade que participava na Procissão dos Passos.
A cadeia poderá estar associada aos grilhões que prendem os pecadores que Nossa Senhora, como Mãe de Jesus Libertador, vem libertar.

(6) Nossa Senhora do Patrocínio

(Altar de N.S. do Patrocínio)
Invocação pouco comum, embora profusa sobretudo no Brasil em igrejas associadas aos franciscanos. A sua imagem distingue-se pela existência de um ceptro, sem o qual, como acontece noutras imagens marianas, não se distinguiria de outras invocações.
Quer este altar quer o da outra da invocação de São José do Patrocínio, fronteiro, estão colocados nas Capelas do cruzeiro.
(Imagens actuais dos Altares de N.S. do Patrocínio e S. José do Patrocínio in:
A Capela de Nossa Senhora do Patrocínio foi mandada levantar pelo MRP Fr Francisco de Jesus Maria Sarmento Comissário Visitador da Venerável Ordem Terceira secular e Ministro do Convento em 1748, sendo a Imagem nela colocada em cerimónia solene no dia 14 de Julho desse ano, conforme se regista numa notícia publicada na Gazeta de Lisboa:
«Colocou-se a 14 do corrente em hum dos Altares colateraes da Igreja de N Senhora de Jesus dos Religiosos Terceiros pela grande devoçam e zelo do MRP Fr Francisco de Jesus Maria Sarmento Comissário Visitador da Venerável Ordem Terceira secular e Ministro do dito Convento huma formosíssima e devotíssima Imagem da Virgem N Senhora com o titulo do Patrocínio o que se fez com todas as solemnidades de luminárias procissam de triunfo com grande numero de figuras de que se imprimiu huma relaçam muy exacta e hum oitavario festivo estabelecendo-se também huma nova Irmandade destinada ao especial culto da mesma Imagem para cujo efeito se benzeu no mesmo Domingo o seu standarte. No primeiro dia celebrou a Missa e pregou com a sua costumada eloquência erudiçam e acerto o MRP Fr Francisco de Jesus Maria Sarmento a que assistiu o Príncipe nosso Senhor e os Sereníssimos Senhores Infantes D. Pedro e D. Antonio pregando nos dias seguintes com repetidos aplausos o M R P M Fr José Manuel da Conceiçam Lente de Véspera da Sagrada Theologia no mesmo Convento».
(Gazeta de Lisboa, 1748, N.º 31, 30 de Julho de 1748)
Nas Capelas de Nossa Senhora e de São José do Patrocínio mandou Francisco Ferreira da Silva, morador na rua de S. José, estabelecer Missas Quotidianas, conforme escritura de 14 de Fevereiro de 1761 lavrada no Cartório do Tabelião Inácio Correia de Sousa e Andrade (DGARQ/ADL, CNL, Of.º act. 11A, L. 19, f. 27).
A Escultura de S. José do Patrocínio é copiada de um desenho de Vieira Lusitano ao que parece por António Joaquim Padrão.
(Luís Gonzaga Pereira, "Descripção dos Monumentos Sacros de Lisboa", 1833-1840)

(7) Nossa Senhora da Conceição da Casa

(Altar de N.S. da Conceição da Casa nos anos 60 do século XX)
Do lado esquerdo da Capela mor, a imagem de Nossa Senhora da Conceição da Casa, uma Imaculada Conceição de grande porte, cuja imagem assume perfeitamente todos elementos iconográficos desta devoção que foi difundida em larga medida graças aos Franciscanos.
Pensamos até que esta designação «da Casa» possa estar associada à imagem original da Casa dos Terceiros de São Francisco, por oposição com a outra imagem de Nossa Senhora da Conceição (da Escada).
Ao que parece o retábulo de Nossa Senhora da Conceição, terá sido feito por José Freire e Baltazar dos Reis Couto, conforme encomenda escriturada em 8 de Novembro de 1718.
(Imagem de N.S. da Conceição actualmente ver:
Fontes das Principais imagens:
Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian > Coleções > A talha em Portugal - COMMONS - (Portuguese woodcraving)


Lisboa, 20 de Maio de 2011
RUI M. MENDES