quinta-feira, 7 de março de 2013

São Pedro da Cadeira (IV): Património religioso




Capela de N. Senhora da Esperança ou das Candeias ? (Coutada)

 
(Capela de N.ª Sr.ª da Esperança – Col. site www.saopedrodacadeira.pt)



No lugar da Coutada, na quinta dos Priores, existe uma Ermida dedicada a N. Senhora da Esperança que está ligada a uma tradição segundo a qual o seu fundador a ergueu em agradecimento à Virgem por conseguir finalmente ter um filho, depois de os dois primeiros lhe terem morrido.
Não se sabe quem foi o seu fundador mas apenas que em 1758 pertencia ao Desembargador José Cardoso Castelo e que a mesmo se tinha arruinado com o terramoto junto com a Quinta.
Foi reconstruída em 1800 por José Franco de Carvalho e aberta ao culto por Licença dada em 10 de Maio de 1800 (1).
No século XX foi de novo reconstruída junto com a quinta.


Igreja de N. Senhora da Saúde (Coutada)

 (Igreja da Coutada – Col. site www.saopedrodacadeira.pt)


Igreja edificada pelos moradores deste lugar segundo projecto do Arqt.º António Flores Ribeiro (Secretariado das Novas Igrejas do Patriarcado). Depois da 1.ª pedra ter sido lançada em 1 de Janeiro de 1981, foi solenemente inaugurada e aberta ao culto em 23 de Setembro de 1984 (2).



Capela de St.º António (Quinta das Figueiras)


(Capela da Quinta das Figueiras, Col. João Luís Alves Francisco) (*)

Ermida edificada em 1710 por António de Miranda dos Santos junto das casas da sua quinta das Figueiras, cuja Licença de edificação foi registada na Câmara Eclesiástica em 15 de Maio de 1710 (3).
Em 1758 pertencia a Capela e Quinta a João da Costa e Morais.
Em 1911 estava a Capela secularizada e as imagens e objetos de culto encontravam-se à guarda da Igreja Paroquial.



Igreja de S. João Baptista (Assenta)

 
(Igreja de Assenta – Col. site www.saopedrodacadeira.pt)

A Capela original foi edificada em 1751 pelo Pe. João Álvares e demais moradores no Casal das Figueiras e Assenta. Tinha rendimentos próprios consignados numa Escritura de dote feita em Torres Vedras a 12 de Agosto de 1749 pelo tabelião José Pinto Valadares. Teve Licença para ser benzida e nela se dizer missa em 29 de Junho de 1751 (4).


Era pública e foi arrolada em 1911.
No século XX foi feita uma nova igreja edificada pelos moradores deste lugar segundo projecto do GAT CM Torres Vedras.
Foi solenemente inaugurada e aberta ao culto em 19 de Setembro de 1993 (5).



Capela de N. Senhora da Conceição (Azenha Velha)


     Capela edificada por Estêvão Zagallo de Andrada e sua mulher D. Camila da Silva Negreiros, nas casas da sua quinta de S. Pedro da Cadeira também conhecida por Quinta da Atalaia (Casal do Ulmeiro ?. Azenha Velha). Tinha rendimentos próprios de 4$000 rs anuais consignados numa Escritura de dote feita em Lisboa a 6 de Julho de 1696, pelo tabelião Domingos da Silva. Teve Licença para nela se dizer missa em 30 de Julho de 1699 (6).


Igreja de N. Senhora da Conceição (Camila)

 

(Igreja da Camila – Col. site www.saopedrodacadeira.pt)


Já neste século foi edificada no Alto da Camila uma Igreja também dedicada a N. Senhora da Conceição para servir de centro culto para os moradores de Gentias, Azenha Velha, Carvalhais, Feteira e Cambelas.
O projecto foi da autoria da Desenhadora Helena Franco e a obra foi conduzida pelo sr. Roque da Silva, sendo solenemente inaugurada e aberta ao culto em 11 de Setembro de 1997 pelo Bispo Auxiliar D. António Vitalino Canas (7). (**)


Capela de S. Nuno (Soltaria)

(Capela de S. Nuno em 2009 – Col. Rui Mendes)


Capela edificada pelos moradores de Casais Miguéis e Soltaria, foi-lhe posteriormente acrescentada uma torre e alpendre também da autoria da Desenhadora Helena Franco, obra que, segundo inscrição local, foi inaugurada em 8 de Julho de 2007 (8). (**)



Capela do Cemitério



FIM
RUI M. MENDES
Caparica, 13 de Setembro de 2012

(*) Foto inserida em 12-12-2013
(**) REVISÃO: 17-07-2014

Notas:
(1) AHPL, Ms. 298, fól. 265; TT-CEL, Mç. 1805, s/n – Inéditos (revisto em 17/9/2012)
(2) Vida Católica, 2ªS, N.º 34, pág. 142
(3) AHPL, Ms. 409, fól. 9 – Inédito
(4) AHPL, Ms. 355, fól. 154; TT-CEL, Mç. 1809, N.º 148 – Inéditos
(5) Vida Católica, 2ªS, N.º 34, pág. 155
(6) AHPL, Ms. 197, fól. 249 – Inédito
(7) Vida Católica, 2ªS, N.º 36, pág. 535. Revisto em 17-07-2014 de acordo com informação da própria autora a Desenhadora Helena Franco. (**)
(8) Revisto em 17-07-2014 de acordo com informação da própria autora a Desenhadora Helena Franco. (**)

TT : Torre do Tombo
AHPL : Arquivo Histórico do Patriarcado de Lisboa
CEL : Câmara Eclesiástica de Lisboa

São Pedro da Cadeira (I): Geografia, Toponímia e Heráldica




 São Pedro da Cadeira é uma freguesia do Concelho de Torres Vedras com cerca de 23 km² e 4400 habitantes, confronta a norte com a freguesia da Silveira, a nascente com a de São Mamede da Ventosa, a sul com a freguesia da Encarnação (Mafra), e a poente com o Oceano Atlântico. Tendo a uma das áreas menos urbanizadas do concelho de Torres Vedras (com mais de 50% do território da freguesia incluído em reserva agrícola ou ecológica), esta localidade goza ainda de uma relativa tranquilidade complementada pela espetacular paisagem da costa oceânica que vai desde a Foz do Lizandro até à Praia do Barril. Fazem parte desta freguesia além da povoação-sede de São Pedro da Cadeira (550 hab.), as povoações de Escaravilheira (654), Coutada (651), Assenta (645), Cambelas (437) e ainda os pequenos lugares de Azenha Velha (299), Soltaria (239), Barrocas (183), Casal Pinheiro (133), Bececarias (130), Gentias e Foz (105), Casal da Pedra Pequena (62), Carvalhais (62) e Figueiras (56). Também nesta freguesia foram identificados alguns lugares de edificação dispersa tais como: Casal Ramalhal, Casal Belmonte, Casal da Amoreira, Casal das Covas de Baixo, Casal do Barro e Porto Rio.

A toponímia local apresenta diversas origens, por um lado os termos mais antigos como Randide, Soltaria, Cambelas, Bececarias e Escaravilheira que denotam origens francas típicas também em outras zonas do concelho de Torres vedras e concelhos limítrofes, o que é lógico pois após a reconquista muitas destas terras foram dadas a colonos francos. Por outro temos topónimos que denotam formas de povoamento e propriedade como Coutada ou Assenta, termos já aqui referidos no séc. XIII ou os Casais expressão que já aparece aqui no séc. XIV.
Existem também topónimos comuns relacionados com construções e condicionantes do terreno e vegetação como Azenha Velha, Barrocas, Carvalhais, Feteira e Figueiras, muito provavelmente de origem mais recente (séc. XVI-XVII), bem como um, o dos Casais e Alto da Camila, nome que deve ter origem em D. Camila da Silva Negreiros, mulher de Estêvão de Zagallo Andrada, que foram proprietários na primeira metade do séc. XVIII de uma quinta próxima a este local.
Já o nome da freguesia e povoação-sede é um hagiotopónimo claramente influenciado pela invocação da Capela, depois igreja paroquial, já existente no início do séc. XVI, mas certamente anterior, o qual acabou por substituir o de Rendide.



Áreas Urbanas da Freguesia de São Pedro da Cadeira (Fonte: PDM Torres Vedras 2006)


A freguesia de São Pedro da Cadeira possui brasão, com a seguinte constituição:
Escudo de prata, cadeira de vermelho, realçada de ouro, carregada no espaldar de uma cruz de prata de três travessas; em chefe, dois cachos de uvas de púrpura, folhados de verde; campanha ondada de verde, prata, azul, prata e verde. Coroa mural de prata de três torres. Listel branco, com a legenda a negro: «S. PEDRO DA CADEIRA».


RUI M. MENDES
Caparica, 13 de Setembro de 2012

São Pedro da Cadeira (III): Edifícios mais notáveis




São sem dúvida dois dos mais antigos e notáveis edifícios da freguesia de São Pedro da Cadeira, a Igreja Paroquial, dedicada à Cadeira de S. Pedro de Antioquia, e a Capela de Nossa Senhora da Cátedra, ambas documentadas no século XVI mas de origem mais antiga.


Igreja Paroquial de S. Pedro da Cadeira

(Igreja Paroquial de S. Pedro da Cadeira – Col. site http://fozdoriosizandro.no.sapo.pt)

A Igreja de S. Pedro da Cadeira, antiga Capela de Randide (1506) tem origem numa Albergaria cujo Compromisso parece datar do século XV, senão anterior. Foi edificada pelos anos de 1530-35 e de novo reedificada no reinado de D. João IV e no século XVIII.
Descrita em 1963 por Carlos de Azevedo e Adriano de Gusmão (1) como uma «Igreja franqueada por porta seiscentista, sobre a qual uma pequena pedra tem esculpida a mitra papal e as chaves, atributos do orago. Em frente da fachada, um cruzeiro simples, datado de 1689.
O interior, de uma só nave, é decorado por um bom silhar de azulejos do século XVII, de tipo de tapete. Tem coro alto sustentado por duas colunas toscanas com pias de água benta integradas nos fustes. A pequena capela baptismal é de notar, com a sua cúpula semiesférica e azulejos também do século XVII, de dois padrões porventura ainda mais bonitos que os já citados. A própria fonte baptismal é uma boa taça oitavada, de pedra, pouco trabalhada mas elegante, suportada por um colunelo facetado. Quanto ao púlpito, de laje de pedra rosada, é do século XVII.
Os altares colaterais não têm interesse, mas conservam algumas boas imagens. E, finalmente a capela-mor é a peça mais importante da igreja. As paredes são forradas com um largo silhar de azulejos do século XVII e, por cima destes, largas molduras de talha dourada enquadram quatro telas que sugerem o estilo de Bento Coelho da Silveira. O retábulo é um bom trabalho de talha dourada do começo do século XVIII, de quatro colunas tão ricamente trabalhadas que quase escondem a sua forma torsa. O altar, porém, é moderno e possivelmente substitui um outro mais antigo e de maiores dimensões, a avaliar pelo grande frontal que se encontra na arrecadação do lado da Epístola. Na sacristia, uma fraca pintura em madeira, do século XVII, representando O Calvário».

Este templo que apresenta características do século XVII por ter sido reedificado no reinado de D. João IV, tem contudo origem num templo anterior já referido em 1506, mas certamente muito mais antigo pois já em 1507 se encontrava em ruínas, razão pela qual foi feito de novo entre 1530 e 1535, sendo a capela-mór por conta dos padres de S. Miguel de Torres Vedras, e o corpo da igreja do povo (2).
Por causa de ruínas sofridas no século XVII, de origem não especificada, os fregueses alcançaram licença de D. João IV para a sua reedificação, conforme regista o Cura de S. Pedro da Cadeira nas suas Memórias Paroquiais de 1758, no entanto as obras devem-se ter prolongado por quase toda a segunda metade desse século como parece indicar a data de 1689 registada no cruzeiro fronteiro. É provável que o principal das obras já estivesse contudo concluído pelos anos de 1669, pois em 14 de Janeiro desse ano foi concedida licença pelo Arcebispo de Lisboa para haver Sacrário na Igreja de S. Pedro da Cadeira (3).
Esta igreja sofreu ainda danos significativos com o terramoto de 1755, pois o Cura da freguesia diz em 1758 que «era esta Igreja de uma nave a qual com o Terramoto caiu no chão, e assim está pelos Fregueses serem muito pobres».
As obras de reconstrução duraram até 1761 com grande empenho dos paroquianos que para elas contribuem, sendo que nesse ano de 1761 foi ano da entrada de Nossa Senhora da Nazaré (4).
No Fundo do Ministério das Obras Públicas regista-se ainda uma campanha de obras e reparos feitos em 1893-95 (5).

Na altura do terramoto tinha ainda a Igreja, além do Altar-mor, mais quatro altares laterais dedicados ao Santíssimo Nome de Jesus, a N. Senhora do Rosário, a S. Sebastião, e a S. Miguel.
No século XIX tinha de fundo 150 palmos e de largo 37 além 3 altares.

Tem no degrau da pia baptismal 2 lápides romanas sendo estes elementos sem dúvida um dos que mais destaque merece pela sua antiguidade.

As quatro telas com representações de parábolas que de acordo com Carlos de Azevedo sugerem o estilo de Bento Coelho da Silveira (1620+1706), também Luís de Moura Sobral (6) as regista como contemporâneas deste pintor, um dos mais profícuos do seu tempo, em Portugal, colocando-as contudo no âmbito daquelas que apesar da qualidade plástica revelada permanecem anónimas na sua autoria, sendo muito provavelmente uma encomenda feita a uma oficina de Lisboa.


Capela de N. Senhora da Cátela ou Cátedra (S. Pedro da Cadeira)


(Capela de N.ª Sr.ª de Cátela – Col. site www.saopedrodacadeira.pt)


(Desenho de Nuno Mendonça, 1963, in AZEVEDO)

Representada por Nuno Mendonça e descrita por Carlos de Azevedo e Adriano de Gusmão (7) como estando «situada já fora mas ainda cerca da povoação de S. Pedro da Cadeira na estrada para Torres Vedras, a pequena Capela da Senhora da Cátela, ou da Cátula (corrupção de Cátedra), esconde um surpreendente interior atrás de uma modesta fachada, onde apenas se recorta um pequeno e antigo óculo estrelado. Com efeito, o pequeno templo conserva um bom silhar de azulejos de ponta de diamante, do século XVII. e a capela-mor, de planta quadrada e abóbada de aresta, é mesmo notável pelo seu belíssimo forro destes azulejos que também decoram a fresta, e pelo frontal de altar em azulejos hispano-árabes. O retábulo de talha é pequeno e modesto, do século XVIII. A valorizar porém o conjunto, uma imagem de pedra policromada, do século XVI, representando a Virgem do Leite. Na pilastra do arco triunfal, chanfrado, lê-se a seguinte inscrição:
FEITA NA ERA DE 1555 ANOS
SENDO JUIZ ÁLVARO VAZ DO URMEIRO
No lintel da pequena porta que se encontra na capela-mor, do lado da Epístola, a data de l669».





 

(Alçado e Planta da Capela, Col. Arquivo Histórico de Torres Vedras)


Pouco se sabe acerca da sua fundação, sendo no entanto bastante antiga pois editores da 2ª edição de Madeira Torres referem que tinha várias propriedades com tombo feito em 1507, encontrando-se o mesmo no tombo da provedoria, juntamente com o da confraria de S. Pedro da Cadeira (fl. 342 vº). Neste tombo encontra-se esta ermida com o nome de "N. Sra. da Cátula" (8).
Segundo as Memórias Paroquiais constava-se que a Imagem era «do tempo dos Godos, a qual diz estar enterrada naquele sítio e que andando lavrando hum lavrador açoitando os bois estava a senhora enterrada, e lhe fizeram a dita Ermida», o que terá acontecido no século XV ou ainda antes.
Certa é a data da sua reedificação, feita em 1555 por ordem do Juiz da Confraria Álvaro Vaz de Urmeiro, conforme inscrição local, para estas obras deve ter contribuído a mercê concedida em 1536 por D: João III aos juízes da «Irmandade de N.ª Sr.ª da Cátula em Torres Vedras» para poderem fazer Bodo, neste tempo este tipo de licenças era dado com a condição de não se fazerem despesas desnecessárias e de se reservar a quarta parte das esmolas colhidas para os ornamentos do altar e fábrica da igreja ou capela e caso esta não necessitasse a quarta parte era para se celebrarem missas pelas intenções dos ofertantes (9).

Uma nova campanha de obras no século XVII conforme parece documentar a inscrição da data de 1669.
Esta ermida, também referida no Santuário Mariano, livro 1º tit. 25 (10) sofreu grande ruína com o terramoto conforme se relata em 1758 nas mesma Memórias Paroquiais, onde o Cura diz «que com o Terramoto se arruinou» foi contudo reedificada por iniciativa de José Francisco Miranda em 1781 recebendo Licença para nela novamente se dizer missa em 25 de Janeiro de 1782 (11). Nas obras setecentistas foi acrescentado um portal de claro gosto pombalino assim como o retábulo de talha.

(Portal da Capela de N. Senhora da Cátedra – Col. patrimoniodetorresvedras.blogspot.pt)

A IMAGEM
A imagem da Virgem do Leite tem de estatura 4 palmos. Obra em pedra onde a Senhora tem sobre o braço esquerdo o menino; estão ambas as figuras coroadas de prata, e ricamente encarnadas e pintadas ao antigo. O Menino Jesus tem na mão uma cruz (in. "Santuário Mariano")


 
(N.ª Sr.ª do Leite e Altar de N.ª Sr.ª da Cátela  –  Col. Arquivo Histórico de Torres Vedras)


RUI M. MENDES
Caparica, 13 de Setembro de 2012

Notas:
(1) Carlos de Azevedo e Adriano de Gusmão – Monumentos e Edifícios Notáveis do Distrito de Lisboa, Vol. IV, Lisboa : Junta Distrital de Lisboa, 1963, pp. 35-37.
(2) http://arqtvedras.home.sapo.pt/LetraS/S0109.htm
(3) AHPL, Ms. 291, fól. 284 – Inédito
(4) http://ciriodapratagrande.com/saopedrocadeira/?file=kop1.php
(5) TT, Ministério das Obras Públicas mç. 472
(6) Luís de Moura Sobral – Bento Coelho e a Cultura do Seu Tempo, 1998, pág. 58.
(7) Carlos de Azevedo e Adriano de Gusmão – Idem
(8) http://arqtvedras.home.sapo.pt/LetraN/N0007.htm
(9) TT-CHR, D. João III, Liv. 22, fól. 117 – Portugal, Torre do Tombo, mf. 5448
(10) Frei Agostinho de Santa Maria, Santuário Mariano, Tomo I, Tít. XXV, pp. 86-87, 1707:
TITULO XXV
Da Imagem de nossa Senhora da Cathedra no termo de Torres Vedras
«HE Maria Santíssima a May da eterna sabedoria & ella mesma he a sabedoria assim o diz Salamão: Ego Sapientia habito in consilio & eruditis intersum cogitationibus. He Mestra da Igreja & assim está em cadeyra hoje dictando, & instruindo com a sua intercessão a todos os filhos della. Assim parece o disse Hesychio chamando lhe Cadeira de Cherubim, que como a estes espíritos se attribue a sabedoria para mostrar o Padre a alta sabedoria da Senhora lhe chama Cathedra Cherubica, Cadeira verdadeiramente de Cherubins porque della não só ensina mas sem cessar á imitação dos Cherubins está louvando ao Senhor por nós Tibi Cberubim Seraphim in cessabili Voce etc rendendo-lhe incessantes louvores pelas misericórdias que por intercessão sua nos reparte illustrando nossos entendimentos & enchendo-nos da sabedoria de sua divina graça para merecermos as da sua gloria.
No termo da Villa de Torres Vedras, duas legoas distante da mesma Villa para a parte do Norte fica a de São Pedro da Cadeira, Em pouca distancia desta Parochia, ou lugar também para a parte do Norte fica hua Ermida dedicada a nossa Senhora com a invocação & titulo da Cadeira, ou Cathedra. A ethimologia deste nome dizem alguns ser derivado de huma grande povoação, que alli havia antigamente a que chamavão a Cathedra, pela Igreja que também alli havia dedicada ao Príncipe dos Apostólos São Pedro & ainda hoje conserva a Parochia & o lugar este título chamando-se São Pedro da Cadeira ou da Cathedra, que he o mesmo. No altar mor desta Ermida he venerada hua devota Imagem de nossa Senhora : a qual ou fosse por haver estado primeyro em a mesma Igreja de S Pedro ou por estar no mesmo lugar & freguesia, he buscada e venerada com este título. Outros a invocão com o título de nossa Senhora do Ó, mas o mais commum he o de nossa Senhora da Cathedra. Donde esta Santa Imagem veyo nem em que tempo se lhe edificou a sua Ermida se ignora: o que se sabe de certo he que he muyto antiga.
Tem esta Santa Imagem de estatura quatro palmos de escultura, obra em pedra, tem sobre o braço esqucrdo ao Menino Deos; são estas Imagens muyto perfeitas, & de fermosas feições estão ambas coroadas de prata & ricamente encarnadas & pintadas ao antigo & sendo a encarnação feita há muytos annos parecem acabadas de poucos dias. O Menino JESUS tem na mão huma Cruz. Sendo aquella freguesia antiquíssima ainda querem que seja nella muyto mais antiga a Senhora. He a sua Ermida annexa à Igreja Matriz de Torres Vedras, & assim o Prior da mesma Igreja a administra. Tem aquelles lugares muyta devoção com esta Santa Imagem; obséquio devido aos muytos favores que recebem de Deos por sua intercessão».
(11) TT-CEL, Mç. 1837, s/n – Inédito

TT : Torre do Tombo
AHPL : Arquivo Histórico do Patriarcado de Lisboa
CEL : Câmara Eclesiástica de Lisboa
CHR : Chancelaria Régia