PADRE GASPAR DA ROCHA (+1607)
Clérigo
natural da Covilhã e Capelão da Misericórdia de Lisboa
Lanço
aqui uma breve nota colhida no 2º Livro do Registo Geral de Testamentos de
Lisboa sobre um Pe. Gaspar da Rocha (Covilhã, ? + Lisboa, 27.12.1607), clérigo
natural da Covilhã, mas que viveu, pelo menos, os últimos 30 anos da sua vida em
Lisboa, onde foi beneficiado da Igreja de Nossa Senhora da Conceição durante 12
anos e depois Capelão da Misericórdia.
Não
se tratava de um figura desconhecida na história, porquanto já António Baião o
identificara em 1580, na documentação da Inquisição, numa passagem de interesse
histórico referida por alguns historiadores em estudos subsequentes:
«No
dia 6 de fevereiro de 1580 apresentou-se o Pe. Gaspar da Rocha, capellão da misericórdia,
natural da Covilhã, para dizer que estando com Fernão d’Araujo, Pedro da Matta
e Jorge Farinha, também capellães, fallaram na successão do reino, se devia ser
subjeito a Castella por D. Sebastião estar ainda vivo e que o capitulo 11.º de
Daniel parecia applicar-se ao caso. Para demonstrar que D. Sebastião estava
ainda vivo applicarem-se as palavras de Isaías, cap. 14.º; o confitente foi
interrogado, entre outras cousas, porque é que julgava que umas certas palavras
(não ser digno de ser rei) se applicavam ao cardeal D. Henrique, respondeu que,
por ser sacerdote e não poder casar e ter filhos. Quanto á sua instrucção,
disse ter frequentado em Alcalá um curso de Artes, com o qual não foi por
deante, mas, que sabe um pouco de latim e cantar. (Nota: Já tem processo.) »
(BAIÃO,
António – A Inquisição em Portugal e no Brazil, 1906, p. 207)
O
Pe. Gaspar da Rocha (Fig. 1), clérigo de missa, fez o seu testamento em 20 de Maio de
1606, o qual viria a ser aprovado em 30 de Setembro de 1606, aberto em 27 de
Dezembro de 1607 e registado em 4 de Março de 1608. Nele declara ser residente
no Beco do Ourinol e freguês da Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Lisboa,
pedindo que depois do seu falecimento fosse enterrado na sepultura dos
beneficiados ou debaixo do Arco de Nossa Senhora da Luz, onde sua mãe estava
enterrada.
Falando
da sua família, o Pe. Gaspar da Rocha refere:
-
um sobrinho de nome Álvaro, filho de Gaspar Lopes, de Valhelhas;
-
uma irmã, de nome Isabel da Rocha; e
-
um irmão de nome Jerónimo da Rocha a quem el Rei fizera mercê dos ofícios da
cidade de Damão, de feitor, de alcaide, de tesoureiro dos defuntos, e provedor
das obras da fortaleza, por tempo de três anos, mas que este morreu sem entrar
a servir.
Faz
também uma importante declaração sobre a sua pátria natal e o que lá deixara
(vide Fig. 2):
«Item
declaro que Eu fiz hua Jrmida de Jhu em Covilham na minha propriedade que tenho
a fomte de Pallos Afonso a quall propriedade vimcullei a igreja de Sam Paullo
domde meus pais heram fregeses e fiz Capella de Nossa Senhora do Parto com a
obrigaçam de doze missas cada anno de que já fiz houtro testamento de que
mandei ho trellado.
Item
mando que a dita Jrmida amde çempre anexa a Jgreja de Sam Paullo de que El Rei
hé padroeiro e Mestre pera que o prioll que hora he e os que forem em diamte
sirvaõ gozem e pessuam como couza de Sua Magestade e no mais se cumpra o que
tenho mãdado (…)
Item
mamdo mais que se dem a Comfraria de Nossa Senhora do Parto cita na Jgresa de
Sam Paullo da villa de Covilhaã des mill Reis per’as necessidades da dita
comfraria os quais se emtreguaõ a Framcisco Vas Covilham pera que os mãde por
sua ordem e os emtregem aos mordomos que ao tal tempo forem e se mandara
sertidam de como foraõ emtregues».
(ANTT, Registo Geral de Testamentos, Liv. 2, fls. 21v-24, fl. 22v-23).
Esta
esta Ermida ou Capela do Senhor Jesus, infelizmente já
desaparecida (vide Figs. 3 e 4), foi de acordo com uma publicação sobre as Igrejas
da Cidade da Covilhã de Paulo Jesus (a quem agradecemos a cedência das
imagens), existiu na Cidade da Covilhã até aos anos 60 do século XX, ao fundo
do Largo D. Maria Pia, que hoje se designa como Jardim Público, no início da
estrada que conduzia à Aldeia (actual Vila) do Carvalho, ou seja, na actual Rua
da Indústria. Foi então demolida para alargamento da estrada e desenvolvimento
habitacional da zona.
Diz o mesmo autor, guiando-se no texto da monografia « História da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição: Covilhã», de António Garcia Borges (2010), que se tratava de um construção simples, consistindo em pedra de cantaria, desconhecendo-se, porém, a data da sua construção. Interiormente tinha apenas o altar-mor, com a imagem do Senhor Jesus, orago da mesma capela.
Esta Capela pertenceu à antiga Paróquia de São Paulo e depois da extinção desta, em 1835, foi integrada na Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, sendo arrolada como sua anexa e ermida pública em 18 de Março de 1928.
Fig. 3: Antiga Capela do Senhor Jesus (Covilhã), fundada pelo Pe. Gaspar da Rocha (+1607), Capelão da Misericórdia de Lisboa (1580/1606), fot. Pub.: https://cidadedacovilha.blogs.sapo.pt/1401.html (agradecemos a Paulo Jesus a cortesia na cedência das imagens).
Fig. 4: Antiga Capela do Senhor Jesus (Covilhã), fundada pelo Pe. Gaspar da Rocha (+1607), Capelão da Misericórdia de Lisboa (1580/1606), fot. Pub.: https://cidadedacovilha.blogs.sapo.pt/1401.html (agradecemos a Paulo Jesus a cortesia na cedência das imagens).
Como
se verifica também no Tombo dos Bens do Concelho da Covilhã, feito no ano de
1615 e publicado no blogue <http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.com/>,
a propriedade do Pe. Gaspar da Rocha na Covilhã andava então efectivamente na
posse do prior da Igreja de São Paulo:
«O
Padre Joam Alvres prior de Sam Paulo (da Covilhã) pessue um pequeno de pomar
que esta a fonte de paulo afonso, que
pessuio antes delle o p.e Guaspar da Rocha e lho deixou com emcargo de certas
misas e pagua delle a este conçelho çem reis de foro em cada año».
Pub.:
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.com/2013/09/covilha-os-tombos-xi.html
Rui
Manuel Mesquita Mendes
Monte
de Caparica, 7 de Março de 2021