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domingo, 7 de março de 2021

            PADRE GASPAR DA ROCHA (+1607)

Clérigo natural da Covilhã e Capelão da Misericórdia de Lisboa


Lanço aqui uma breve nota colhida no 2º Livro do Registo Geral de Testamentos de Lisboa sobre um Pe. Gaspar da Rocha (Covilhã, ? + Lisboa, 27.12.1607), clérigo natural da Covilhã, mas que viveu, pelo menos, os últimos 30 anos da sua vida em Lisboa, onde foi beneficiado da Igreja de Nossa Senhora da Conceição durante 12 anos e depois Capelão da Misericórdia.

Não se tratava de um figura desconhecida na história, porquanto já António Baião o identificara em 1580, na documentação da Inquisição, numa passagem de interesse histórico referida por alguns historiadores em estudos subsequentes:

«No dia 6 de fevereiro de 1580 apresentou-se o Pe. Gaspar da Rocha, capellão da misericórdia, natural da Covilhã, para dizer que estando com Fernão d’Araujo, Pedro da Matta e Jorge Farinha, também capellães, fallaram na successão do reino, se devia ser subjeito a Castella por D. Sebastião estar ainda vivo e que o capitulo 11.º de Daniel parecia applicar-se ao caso. Para demonstrar que D. Sebastião estava ainda vivo applicarem-se as palavras de Isaías, cap. 14.º; o confitente foi interrogado, entre outras cousas, porque é que julgava que umas certas palavras (não ser digno de ser rei) se applicavam ao cardeal D. Henrique, respondeu que, por ser sacerdote e não poder casar e ter filhos. Quanto á sua instrucção, disse ter frequentado em Alcalá um curso de Artes, com o qual não foi por deante, mas, que sabe um pouco de latim e cantar. (Nota: Já tem processo.) »

(BAIÃO, António – A Inquisição em Portugal e no Brazil, 1906, p. 207)

 

O Pe. Gaspar da Rocha (Fig. 1), clérigo de missa, fez o seu testamento em 20 de Maio de 1606, o qual viria a ser aprovado em 30 de Setembro de 1606, aberto em 27 de Dezembro de 1607 e registado em 4 de Março de 1608. Nele declara ser residente no Beco do Ourinol e freguês da Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Lisboa, pedindo que depois do seu falecimento fosse enterrado na sepultura dos beneficiados ou debaixo do Arco de Nossa Senhora da Luz, onde sua mãe estava enterrada.

Falando da sua família, o Pe. Gaspar da Rocha refere:

- um sobrinho de nome Álvaro, filho de Gaspar Lopes, de Valhelhas;

- uma irmã, de nome Isabel da Rocha;  e

- um irmão de nome Jerónimo da Rocha a quem el Rei fizera mercê dos ofícios da cidade de Damão, de feitor, de alcaide, de tesoureiro dos defuntos, e provedor das obras da fortaleza, por tempo de três anos, mas que este morreu sem entrar a servir.

Fig. 1: Assento de óbito do Pe. Gaspar da Rocha (27.12.1607), Col. Registos Paroquiais, Conceição (Lisboa) (ANTT)

Faz também uma importante declaração sobre a sua pátria natal e o que lá deixara (vide Fig. 2):

«Item declaro que Eu fiz hua Jrmida de Jhu em Covilham na minha propriedade que tenho a fomte de Pallos Afonso a quall propriedade vimcullei a igreja de Sam Paullo domde meus pais heram fregeses e fiz Capella de Nossa Senhora do Parto com a obrigaçam de doze missas cada anno de que já fiz houtro testamento de que mandei ho trellado.

Item mando que a dita Jrmida amde çempre anexa a Jgreja de Sam Paullo de que El Rei hé padroeiro e Mestre pera que o prioll que hora he e os que forem em diamte sirvaõ gozem e pessuam como couza de Sua Magestade e no mais se cumpra o que tenho mãdado (…)

Item mamdo mais que se dem a Comfraria de Nossa Senhora do Parto cita na Jgresa de Sam Paullo da villa de Covilhaã des mill Reis per’as necessidades da dita comfraria os quais se emtreguaõ a Framcisco Vas Covilham pera que os mãde por sua ordem e os emtregem aos mordomos que ao tal tempo forem e se mandara sertidam de como foraõ emtregues».

(ANTT, Registo Geral de Testamentos, Liv. 2, fls. 21v-24, fl. 22v-23).


Fig. 2: Excerto do Testamento do Pe. Gaspar da Rocha (1606), Col. Registo Geral de Testamentos (ANTT)

 

Esta esta Ermida ou Capela do Senhor Jesus, infelizmente já desaparecida (vide Figs. 3 e 4), foi de acordo com uma publicação sobre as Igrejas da Cidade da Covilhã de Paulo Jesus (a quem agradecemos a cedência das imagens), existiu na Cidade da Covilhã até aos anos 60 do século XX, ao fundo do Largo D. Maria Pia, que hoje se designa como Jardim Público, no início da estrada que conduzia à Aldeia (actual Vila) do Carvalho, ou seja, na actual Rua da Indústria. Foi então demolida para alargamento da estrada e desenvolvimento habitacional da zona.

Diz o mesmo autor, guiando-se no texto da monografia « História da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição: Covilhã», de António Garcia Borges (2010), que se tratava de um construção simples, consistindo em pedra de cantaria, desconhecendo-se, porém, a data da sua construção. Interiormente tinha apenas o altar-mor, com a imagem do Senhor Jesus, orago da mesma capela.

Esta Capela pertenceu à antiga Paróquia de São Paulo e depois da extinção desta, em 1835, foi integrada na Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, sendo arrolada como sua anexa e ermida pública em 18 de Março de 1928. 

Fig. 3: Antiga Capela do Senhor Jesus (Covilhã), fundada pelo Pe. Gaspar da Rocha (+1607), Capelão da Misericórdia de Lisboa (1580/1606), fot. Pub.: https://cidadedacovilha.blogs.sapo.pt/1401.html  (agradecemos a Paulo Jesus a cortesia na cedência das imagens).

Fig. 4: Antiga Capela do Senhor Jesus (Covilhã), fundada pelo Pe. Gaspar da Rocha (+1607), Capelão da Misericórdia de Lisboa (1580/1606), fot. Pub.: https://cidadedacovilha.blogs.sapo.pt/1401.html  (agradecemos a Paulo Jesus a cortesia na cedência das imagens).

 

Como se verifica também no Tombo dos Bens do Concelho da Covilhã, feito no ano de 1615 e publicado no blogue <http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.com/>, a propriedade do Pe. Gaspar da Rocha na Covilhã andava então efectivamente na posse do prior da Igreja de São Paulo:

«O Padre Joam Alvres prior de Sam Paulo (da Covilhã) pessue um pequeno de pomar que  esta a fonte de paulo afonso, que pessuio antes delle o p.e Guaspar da Rocha e lho deixou com emcargo de certas misas e pagua delle a este conçelho çem reis de foro em cada año».

Pub.: http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.com/2013/09/covilha-os-tombos-xi.html

 

Rui Manuel Mesquita Mendes

Monte de Caparica, 7 de Março de 2021